quarta-feira, 20 de julho de 2011

Modesto Neto defende tese da JSPDT no 52º Congresso da UNE

Modesto Neto fala durante debate sobre Reforma Política


Aconteceu em Goiânia (GO) entre os dias 13 e 17 de julho o 52º Congresso Nacional da UNE que reuniu mais de 12 mil estudantes para debater temas sobre educação, reforma política, conjunturas – nacional e internacional – além dos desafios nos próximos anos da estudantada brasileira.

A JSPDT/RN foi representada pelo seu Vice-Presidente, escritor e acadêmico de História Modesto Neto que defendeu em nome do Movimento Reinventar da JSPDT a tese apresentada ao Congresso. Modesto Neto defendeu a parte da tese no que diz respeito às conjunturas nacional e internacional e a posição que o Brasil precisa ter diante da crise econômica liberal-capitalista que mostra na Grécia as primeiras pontas de um grande abacaxi. O representante da JSPDT/RN falou no Goiânia Arena numa plenária com mais de dez mil estudantes de todo o país.

Modesto Neto também participou do debate sobre reforma política, defendeu que haja mudança nos mecanismos de concessão de licenças de rádios e TVs no sentido de pluralizar a produção cultural e permitir que pequenos grupos – sindicatos, grêmios, conselhos de bairro – possam ter acesso a estes mecanismos de mídia. Defendeu uma reforma política plural, popular e acima de tudo democrática com revogação de mandatos por parte da população e financiamento público de campanha.

Fonte: JSPDT/RN – www.jspdtrn.blogspot.com

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Imprensa underground e o calabouço da grande mídia

Por Modesto Neto

É um lugar sombrio de pouquíssima iluminação onde o acesso é difícil e a poeira cobre a tudo que nele possa vir a habitar. É o andar mais profundo dos castelos medievais onde são levados os presos mais perigosos ou que representam maior ameaça a nobreza coberta de pomposas vestes em ouro. Estes são os calabouços.

Durante séculos eles serviram para aprisionar presos políticos, homens e mulheres que ameaçassem a coroa de algum reino. Hoje na contemporaneidade os calabouços do silêncio são onde jogam-se não apenas humanos, mas as idéias, as notícias, as informações ou qualquer tipologia de conhecimentos que possam vir a ameaçar os grandes impérios – econômicos, empresariais e/ou políticos – que se sustentam sobre os pilares da exploração descabida e cínica da maioria das pessoas do Brasil e do mundo que anestesiadas sob os calmantes e êxtases da intransigente globalização mercadológica torna-os apenas compradores, consumidores, donatários de cartões de crédito, reduzidos em pensamento, ideologia e humanismo. Às vezes reduzidos em dignidade.

A grande mídia nunca foi democrática e embora seja forçada a respeitar os parâmetros da realidade ela vende em reportagens de noticiários ou páginas de tablóides a sua versão dos fatos. Estas versões não são apenas informativas, elas buscam atender demandas – por menores que sejam – e isso é a forma não muito honesta que a grande mídia utiliza para manter-se hegemônica no ‘mercado das notícias’. Um dos subterfúgios onde se ancora esta imprensa é a tal imparcialidade alegada na transmissão de suas notícias-verdades e a esmagadora maioria da população, especialmente a classe média em ascensão, que se vê emergida em uma série de atividades típicas do cotidiano corrido das grandes metrópoles não tem tempo para filtrar as informações e as tomam para si como verdades absolutas e enlatadas prontas para serem consumidas.

Não questionamos a parcialidade da grande mídia em detrimento de seus financiadores. Numa sociedade capitalista cabe a cada um defender deu quinhão de sorte, inclusive defendemos aquilo que acreditamos e somos também parciais. O que nos entristece é saber que a parcialidade da grande mídia além de leviana não se exibi como tal, diferente de nossa parcialidade que não se omiti diante das veredas e dos ditames dos debates. Plínio de Arruda Sampaio que em 2010 disputou as eleições presidenciais pelo PSOL nos confere uma perola da qual comungamos. “Ser imparcial é estar ao lado do mais forte”. E é por isso que somos parciais, estamos do lado de uma parcela oprimida, silenciada, sem voz e muitas vezes sem representação política autentica.

“Verdade e Mentira no Sentido Extramoral” é um escrito do filosofo alemão Friedrich Nietzsche do ano de 1873. Não foi o Nietzsche que o escreveu, ele o ditou ao seu amigo Carl Von Gersdorff. O centro das discussões do escrito é a verdade, uma temática tão valiosa a Nietsche que naquele momento passava por um movimento de ruptura com as idéias do Schopenhauer e a ascensão do seu pensamento cético. Este seu lado descrente até então não muito evidente entrava no grande terreno das discussões filosóficas e permearia ainda novos debates. Nietsche embora seja um filósofo trágico que se opõe à idolatria da verdade e ao otimismo vazio dos modernos nos concede duas contribuições inestimáveis nesta discussão frágil sobre a verdade.

Nietsche nos ensina que a verdade é um ponto de vista, uma perspectiva, um recorte e que não existe a verdade absoluta porque o que temos são leques de verdades, inúmeras verdades e cada uma com suas particularidades. Esta é a primeira grande contribuição que ele nos lega. Seu segundo subsídio que nos auxilia não apenas no debate sobre verdade, mas no debate sobre a grande mídia, a informação e a sociedade dizem respeito à pluralidade das idéias e o respeito que é preciso ter, sobretudo ao pensamento diferente, que destoa do convencional e às vezes pode até se apresentar sem aparente nexo. "Aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música", escreveu Nietzsche. Esta frase simboliza que a verdade de uns podem ser a mentira de outros e vice-versa.

Apesar de concordar com o Nietsche na defesa da pluralidade e na aparente subjetividade da verdade não posso deixar de afirmar a verdade como um valor caro e importante a minha pessoa. As verdades que se apresentam com clareza cristalina podem ser interpretadas de várias formas e exibidas de vários ângulos, porém sua essência permanece intacta porque os acontecimentos ocorrem de tal forma que não podem ser alterados. Um estupro é um ato de violência, embora em alguns países ele possa ser justificado e talvez não punido, mesmo assim ele continua sendo um atentado a dignidade. Furtar um bem de uma pessoa poderá acarretar no julgamento e na prisão ou não do infrator, e mesmo que o júri divida-se entre absolvição e condenação, o individuo que cometeu o furto estará em falta com sua honestidade.

Convencionamo-nos enquanto humanidade a viver sobre os pilares das representações e das convenções culturais e não poderia ser diferente, pois as culturas que legitimam valores, crenças e práticas acabam sendo responsáveis por dar os contornos do comportamento humano que se pretende correto. De tal forma os céticos afirmariam que seria inviável a verdade já que até mesmo os atos humanos seriam reflexo de representações. Discordamos. Neste ponto seriamos – sobre a ótica cética – reacionários, porque acreditamos na pluralidade das verdades como fruto das leituras dos acontecimentos e do mundo, porém nos colocamos antagonicamente as ‘verdades enlatadas’, as mentiras da imprensa e ao saber midiático que se pretende soberano.

Além de faltar com a honestidade nos seus recortes a grande mídia omite e varre para baixo do tapete aquilo que não convém aos seus parceiros comerciais, torna algumas verdades inaudíveis trancafiadas no mais sombrio dos calabouços. Essa grande mídia que no Brasil e no mundo é controlada por poucas famílias manipula através das caixas de televisão uma grande massa de pessoas. Todavia, com o advento da internet – especialmente neste tumultuado começo do século XXI – se apresenta como nova ferramenta de dialogar idéias e romper o bloqueio midiático imposto pelas grandes empresas que se pensam donatários das verdades.

Diante deste cenário se organizou a imprensa alternativa. Um jeito diferente de fazer jornalismo e debater idéias nasceu sob o solo não fértil cultivado pela grande mídia. A semente a revelia do solo.

O irreverente, humorista e jornalista gaúcho Apparício Torelli ou simplesmente ‘Barão de Itararé’ foi um dos fundadores da imprensa alternativa no Brasil. O Barão nasceu em 1895, foi vereador da cidade maravilhosa, preso político, militou no Partido Comunista do Brasil (PCB) e além de contribuir com jornais fundou seus próprios periódicos sempre com sua caneta afinada na defesa aguerrida da democracia e da liberdade, na critica a exploração dos proletários e no combate aos governos autoritários. O barão foi um de tantos.

Já a partir de 1964 o Brasil passa a vivenciar outro momento político e cultural e a imprensa underground passa por uma reciclagem, uma transformação profunda e se adapta ao novo cenário que lhe é imposto. Liberdade de expressão com termômetro, limites, ajustes. Como tudo no país estava amordaçado pelo regime militar (1964 - 1985), a única forma de a sociedade tomar conhecimento do que estava acontecendo era pela imprensa alternativa, que noticiava, em seus periódicos, quando furava o cerco da ditadura, os graves crimes praticados no Brasil como as mortes de presos políticos, as formas de torturas, a ostensiva conivência do Estado com grupos nacionais e multinacionais que controlavam a economia, a violação dos direitos humanos, dentre outros temas. Centenas de pequenos jornais, revistas e até mesmo panfletos se proliferaram na ausência da liberdade de expressão cerceada pelo regime. Neste espaço de tempo nasceram grandes jornais da imprensa alternativa como O Pasquim, referência deste período.

Hoje atravessamos o grande fosso da história contemporânea brasileira (1964 - 1985) e conseguimos restabelecer a democracia mesmo que todos os problemas pontuais de representação político-social. Vivenciamos uma tipologia diferenciada de democracia através da internet, temos um número crescente de blogs, portais, sites e espaços de discussões criados em redes sociais capazes de catalisar anseios e mobilizar grupos em prol de marchas, campanhas e caminhadas. No eixo Rio – São Paulo, tivemos a Marcha pela Liberdade, a Marcha pela Legalização da Maconha – após um debate sobre sua viabilidade jurídica via STF – e a Marcha das Vadias com a temática feminista, além das greves de servidores públicos em vários estados do Brasil, motivadas e organizadas pelas praças virtuais da internet. No Oriente Médio oligarquias caem, sistemas mudam e conjunturas políticas e sociais se alteram com movimentos pró-democracia nascidos na internet.

No Rio Grande do Norte alguns movimentos surgiram e também se organizaram via internet. Na segunda maior cidade do estado nasceu o Comando de Mobilização Estudantil de Mossoró (COMEM) que bateram recorde de ocupação na Décima Segunda Diretoria Regional de Educação (12ª DIRED). Em Natal o movimento Fora Micarla acampou nas galerias do Legislativo Municipal e conseguiu a aprovação de parte de sua pauta de reivindicações. A internet se estabeleceu enquanto espaço de organização de grupos sociais e a imprensa underground como condutora de bons debates, boas discussões e de um ponto de vista marginal, não convencional.

Com uma sociedade sufocada por uma mídia burguesa e convencional que vende a qualquer preço as capas de revista que lhe convém na defesa dos interesses mais escusos possíveis só podemos romper este bloqueio sob a artilharia combativa da imprensa e da cultura alternativa. Para além de garantir a pluralidade das idéias no campo das discussões, formatar o contraponto a ordem dominante que além de se colocar acima das verdades enxerga as massas como rebanho de suas propriedades.


FONTE: Blog Diálogo Socialista - www.dialogosocialista.wordpress.com