segunda-feira, 20 de junho de 2011

Juventude, o combustível das revoluções

Modesto Neto, é escritor, Vice-Presidente da Juventude Socialista do PDT no RN, editor do blog Diálogo Socialista e acadêmico do curso de História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) .

Todos – ao menos uma vez na vida – pensaram em mudar o mundo para melhor. E essa é a característica mais gritante na face da juventude: a capacidade de ousar. Existem inúmeras formas de mudar, melhorar e transformar o mundo em um espaço melhor não apenas para nossos filhos e netos, mas para as gerações que surgiram e carregaram sobre as suas costas os problemas ou as soluções que criamos hoje. Cada país, cada estado, cidade ou território é um mundo e qualquer mudança – por menor que seja – nestes espaços, influenciam no mundo que se transforma cotidianamente. É por isso que pequenos gestos como reciclar o lixo, plantar uma árvore, participar de uma campanha de arrecadação de alimentos para instituições de caridade são singelos gestos que mostram a nossa forma de mudar o mundo, mesmo que em pequenas proporções.

Os artistas acreditam que podem melhorar o mundo pela arte. Cantores como Renato Russo e Cazuza denunciaram pela música as injustiças da nação e cantaram os desafios dos anos 80 no Brasil. Chico Buarque, Gilberto Gil e tantos outros fizeram da música um espaço de resistência contra o autoritarismo que ceifava vidas durante o Regime Militar (1964 - 1985) no país. Bob Marley fez da suas canções um alerta para o mundo sobre o preconceito racial. John Lennon fez da sua voz uma arma contra a violência quando denunciando as incoerências da sociedade afirmou que “vivemos num mundo onde precisamos nos esconder para fazer amor, enquanto a violência é praticada em plena luz do dia”. Não foi apenas a música enquanto segmento da arte que deu sua contribuição para o debate de mundo e a defesa de princípios tão caros a uma sociedade que se pretende justa.

Artistas plásticos, teatrólogos, atores, escritores, músicos e membros de vários outros segmentos da arte serviram como colaboradores no processo constante de mudança dos espaços sociais. Em 1944 Cândido Portinari terminara de pintar o quadro Os Retirantes e sua arte nesta obra expressa uma fala da história de milhares de brasileiros que se vêem obrigados a sair do Nordeste fugindo das enfermidades da miséria, da fome e da seca para buscarem a sobrevivência em outra região. Um povo sofrido e sem voz por inúmeras vezes varrido para baixo do tapete da história e ocultado pelo excesso de discursos oficiais ganham contornos na pintura de Portinari. A denuncia sobre a miséria total que assolava boa parte dos nordestinos do país ganha evidência internacional e mecanismos de governos – federal, estaduais e municipais – começam a tomar providências, por mais que não sejam apenas motivadas pela crítica do Portinari existe ai uma contribuição inconteste.

As contribuições para a transformação do mundo não foram apenas de artistas. O pastor norte-americano Martin Luther King que veio a ganhar o Prêmio Nobel da Paz foi um defensor nato da paz e da igualdade de direitos entre brancos e negros. Nelson Mandela que também recebeu o Nobel da Paz foi um paladino da liberdade, tornou-se presidente da África do Sul e usou a política como instrumento em defesa da África criando o Parque Nacional do Zimbábue, uma das maiores reservas sustentáveis do planeta, entre outras grandes conquistas.

Em todos os personagens históricos aqui citados uma característica é evidente em suas atuações, sejam na religião, na política ou nas artes. A essência da juventude que lhes deram a coragem de ousar lutar pelas suas idéias é sem sombra de dúvidas o combustível das revoluções que ocorreram no mundo. As grandes transformações passaram por atitudes ousadas de jovens que pensaram um mundo diferente e não cruzaram os braços diante dos gigantes desafios que lhes foram impostos.

Entendendo a política como espaço de tomada de decisões que afetam a vida coletiva da sociedade pode-se afirmar que no Brasil a juventude fez importantes proposições durante a história. No governo de Getúlio Vargas quando participou da campanha “O Petróleo é Nosso” que culminou no decreto que criou a maior estatal do Brasil, a Petrobras. Durante o Regime Militar (1964-1985) os estudantes convertidos muito cedo em intelectuais do povo fizeram uma resistência importante ao autoritarismo, foram às ruas, protestaram e deram a sua cara a tapa. Infelizmente muitas vidas da mocidade brasileira foram tragadas pelo dragão da Ditadura Militar. Também em defesa das eleições diretas para Presidente da República na campanha “Diretas Já”. Em 1989 tivemos as eleições diretas quando a maioria da população encantada com a política publicitária elegeu Fernando Collor de Melo, porém em 1992 acusado de corrupção no governo, Collor cai diante do movimento “Caras Pintadas” que colocou a estudantada na rua exigindo ética e respeito ao Brasil. E não se resumem a estas as mobilizações de juventude em defesa do país.

No Rio Grande do Norte, especificamente na capital, um grande numero de jovens ocuparam as galerias do poder legislativo de Natal pedindo a instalação da uma Comissão Especial de Inquérito com o intuito de investigar os contratos de alugueis firmado pela Prefeitura Municipal comandada por Micarla de Souza sob a suspeita no mínimo incomodas a atual prefeita que foi eleita em 2008 com o apoio de coronéis como o senador José Agripino Maia e da imprensa prostituída. Estudantes da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) ocupam neste mês de junho de 2011 a 12ª Diretória Regional de Educação (DIRED) em Mossoró e lá pedem providências do Governo do Estado em defesa dos interesses da universidade e de uma educação pública e de qualidade. Estudantes e política, estes são os ingredientes responsáveis por esta tomada coletiva de posicionamento.

É bom ver mobilizações como as que foram citadas aqui nas duas principais cidades do RN, porém não podemos – enquanto juventude – nos restringir a ocupar espaços apenas reivindicando melhorias em eventos de protesto. Eles são importantes para manter a dinâmica da sociedade e fazer o contraponto a ordem política vigente e dominante. Porém a juventude brasileira e potiguar precisa pensar grande. Hoje existe uma apatia a política e os partidos políticos caíram em descrédito, todavia existam ainda partidos sérios que apresentam aos seus filiados a oportunidade de ter uma vida partidária e participar das decisões coletivas. Embora citemos aqui inúmeros casos onde se verifica uma juventude aguerrida é preciso ocupar os espaços propriamente políticos, exercermos cargos nos poderes legislativos e executivo pelo país e participar da pauta de discussões sobre o Brasil. É preciso pensar nossas cidades, nossos estados e a nossa nação, além de darmos nossa contribuição é preciso defender a nossa tese de Brasil. Defender as medidas necessárias em nossas cidades para que elas possam crescer com justiça social e respeito à diversidade. Construir a política com a nossa cara.

Carecemos de espaços de discussão política. Hoje a internet é um meio democrático, livre, plural e importante para estes debates. Alguns partidos apresentam espaços onde é respeitado as mais diversas falas. Contudo, existe uma parcela significativa – a maioria – de jovens que não possuem filiação partidária nem se sentem atraídos a ter a política como pauta na internet. É preciso que se estabeleçam os Conselhos de Juventude e que estes tenham uma gestão democrática e com apoio logístico dos municípios para poderem existir realmente se constituindo como uma engrenagem de suma-importância para a discussão sobre as Políticas Públicas de Juventude. Com eles e com outros instrumentos a discussão sobre política e juventude entra em uma outra dimensão e ganha novas proporções.

Já dizia o ex-governador do Rio de Janeiro Leonel de Moura Brizola “é preciso inundar esse país de mentes esclarecidas”. E complementando a missão colocada por Brizola só podemos dizer que este papel é nosso, porque somos nós a vanguarda daqueles que pensam e lutam por um Brasil maior, somos nós – a juventude – o combustível das revoluções.

FONTE: DIÁLOGO SOCIALISTA – www.dialogosocialista.wordpress.com

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